Como cuidar do seu dinheiro sem gastar à toa

Por que nós somos tão ruins em organizar nossas finanças? Entenda por que tanta gente sofre com isso, onde entra a "contabilidade mental" nessa história e aprenda a cuidar melhor do seu dinheiro.

7 de junho de 2022

Redação N26

Mulher mexendo no computador

É o seguinte: cuidar de grana é um saco. Finanças pessoais costumam ser algo com que as pessoas só se preocupam tarde demais - e é quase sempre exatamente isso, uma preocupação. Como cuidar do seu dinheiro, então, sem cair nessa?

Você provavelmente tem algum tipo de sistema de controle ou divisão para suas contas. Muita gente mantém uma “conta principal”, por exemplo, para ir sacando o dinheiro das despesas diárias e comprando o que precisar. Além disso, algumas pessoas têm uma conta secundária que funciona como um estoque para compras maiores ou emergências.

Economistas e psicólogos chamam isso de "mental accounting" - ou contabilidade mental

De um jeito bem resumido, contabilidade mental é o nome que se dá à divisão subjetiva que sua cabeça faz do seu dinheiro em diferentes "contas". É como seu cérebro - consciente ou inconscientemente - lida com suas finanças de maneiras diferentes, dependendo de onde a grana veio ou para onde vai.

Isso vale para quem tem um cartão só para sair ou pedir comida, por exemplo. Ou para uma conta em que só fica o dinheiro do aluguel. Mas se alguma vez na vida você já pensou duas vezes antes de gastar em um restaurante o dinheiro que poderia ir para o mercado do mês, você já praticou contabilidade mental.

De onde veio o termo contabilidade mental

Pessoas reais têm problemas reais para equilibrar suas finanças - que dirá calcular quanto elas precisam economizar para a aposentadoria.

Isso foi o que pensou o economista comportamental Richard Thaler para "descobrir" a contabilidade mental em um estudo feito em 1999. Ele se propôs a compreender melhor a psicologia por trás da escolha do consumidor. No experimento, ele entrevistou um grupo de pessoas sobre uma ida ao cinema - e foi mais ou menos assim:

Imagine que você decidiu ver um filme e pagou R$ 20 no ingresso. Na hora de ir para a sala, descobre que perdeu a entrada. Ninguém consegue te ajudar sem o papel. Você pagaria mais R$ 20 em outro ingresso? Só 46% dos entrevistados disseram que sim. 

Quando Thaler reformulou a pergunta, o resultado foi completamente diferente.

Imagine que você decidiu ver um filme e a entrada do cinema custa R$ 20. Chegando na bilheteria, descobre que perdeu uma nota de R$ 20. Você pagaria mais R$ 20 para comprar o ingresso? Dessa vez, 88% disseram que comprariam outro ingresso. Mas por quê?

Objetivamente, as duas situações são exatamente iguais: você perdeu R$ 20 sem conseguir ver o filme. Mas não é assim que nosso cérebro organiza nosso dinheiro. A conclusão de Thaler foi que nós dividimos nossos gastos em compartimentos ou orçamentos diferentes. E cada "conta" dessas serve para cobrir uma necessidade ou um desejo.

No primeiro caso, você já gastou o dinheiro separado para o cinema, então gastar o dobro para ver um filme está fora de questão. Mas, no segundo caso, os R$ 20 perdidos são contabilizados como despesas gerais. Você não gastou esse dinheiro com o cinema, só perdeu ele. Parece não ter lógica, certo? E não tem mesmo.

Aprenda a cuidar do seu dinheiro (e por que nós não tomamos decisões financeiras lógicas)

A escolha lógica em ambos os casos teria sido aceitar a perda da grana, enfiar a carteira no bolso, voltar para casa e assistir a qualquer outro filme. Acontece que, para isso, é preciso ter um controle rígido sobre seu próprio dinheiro, entendendo que cada R$ 1 é R$ 1. E os economistas comportamentais defendem que ninguém tem isso.

Vejamos o estudo de Kahneman e Tversky, por exemplo, que Thaler citou em seu artigo de 1999. Eles perguntaram às pessoas em que situação elas preferiam cruzar a cidade para ir até uma loja retirar sua compra: ganhando um desconto de R$ 5 em uma calculadora que custa R$ 15 ou o desconto de R$ 5 em um casaco que custa R$ 125. Muito mais pessoas disseram que sairiam de casa pela calculadora e não pelo casaco.

Isso acontece por causa de uma coisa chamada "enquadramento". Nós enquadramos e analisamos cada compra individualmente, em vez de olhar para o valor como um todo. Por isso, os R$ 5 economizados numa compra de R$ 125 parecem troco de padaria, enquanto o mesmo valor vira um descontão para uma calculadora. Nós não baseamos nossas decisões em valores absolutos.

É o mesmo motivo pelo qual você gasta tanto nas férias ou com coisas bestas quando está viajando para algum lugar caro. Que diferença fazem uns reais a mais se você já economizou por meses e está gastando um dinheiro cuja função é ser gastado? 

Nós tendemos a enquadrar cada gasto de acordo com o benefício individual que teremos com ele. Outro estudo de Thaler ilustra perfeitamente isso. Ele perguntou às pessoas se elas pagariam mais por uma cerveja em um resort ou em uma loja na esquina. Como era óbvio, as pessoas estavam dispostas a pagar mais pela cerveja do resort do que pela da loja. É a mesma cerveja, mas em contextos diferentes - e com benefícios individuais diferentes em cada caso.

O que isso nos diz sobre como gastamos dinheiro?

Compreender a psicologia por trás da contabilidade mental é bastante útil para ser um pouco mais consciente. Assim como no caso do resort, você sempre pode parar e pensar no contexto. Estou comprando uma coisa porque realmente quero ela? Ou estou tirando dinheiro de um lugar para pôr no outro só para tentar atribuir um valor mais alto a essa coisa e gastar mais?

Até as pessoas aparentemente mais racionais correm o risco de cometer erros com contabilidade mental. E a maneira mais simples de superar isso é ser prático. Quer gastar menos? Tenha menos dinheiro à disposição para gastos ordinários. 

Todos nós fazemos compras espontâneas e impulsivas. Mas a vida é melhor vivida quando a gente é realista - ainda mais se temos algum espaço de manobra para isso.

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